Um dia eu tive um ímpeto de desapego e resolvi vender mais da metade dos meus livros para um sebo. Recebi por eles um valor irrisório, igual ao que eu havia pago por apenas um dos livros que deixei lá. Um livro que eu havia lido uma vez só e estava em perfeito estado de conservação.
Não valeu a pena e me arrependi.
Meus livros eram bem cuidados, sem orelhas ou riscos. Alguns eram encapados com papel contato transparente. Um zelo só!
Quando me dei conta do que tinha feito decidi que marcaria meus próximos livros como uma forma de sabotar qualquer futuro desapego em massa. Sublinho frases, faço anotações de referências, percepções e ligações com outros textos e autores. Gosto assim, me parece recíproco que eu marque o livro da mesma forma como ele me marca. Sinto como se, ao riscar meu livro, deixo nele também uma parte de mim. Ele será para sempre meu e será único para mim exatamente por me conter.