domingo, 17 de maio de 2009

Baixei os olhos para Sohrab. Um dos cantos da sua boca tinha se curvado um tantinho pra cima.
Um sorriso.
De um lado só.
Que mal se notava.
Mas que estava ali.
Atrás de nós, crianças saíam correndo em disparada e um monte daqueles caçadores perseguia aos gritos a pipa solta que continuava voando acima das árvores. Foi só eu piscar os olhos e o sorriso tinha desaparecido. Mas existiu. Eu vi.
-Quer que eu tente apanhar essa pipa pra você?
O seu pomo-de-adão subiu e desceu quando engoliu. O vento agitou seu cabelo. Pensei ter visto ele fazer que sim com a cabeça.
-Por você, faria isso mil vezes! - Me ouvi dizendo.
Virei, então, e saí correndo.
Tinha sido apenas um sorriso, e nada mais. As coisas não iam se ajeitar por causa disso. Aliás, nada ia se ajeitar por causa disso. Só um sorriso. Um sorriso minúsculo. Uma folhinha em um bosque, balançando com o movimento de um pássaro que alça vôo.
Mas me agarrei àquilo. Com os braços bem abertos. Porque, quando chega a primavera, a neve vai derretendo floco a floco, e talvez eu tivesse simplesmente testemunhado o primeiro floco que se derretia.
Saí correndo. Um adulto correndo em meio a um enxame de crianças que gritavam. Mas nem me importei. Saí correndo, com o vento batendo no rosto e um sorriso tão grande quanto o vale do Panjsher nos lábios.
Saí correndo.


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Essa semana eu tava relendo alguns trechos do livro 'O caçador de pipas'. Tava relendo só por enquanto não chega meu livro novo.
O interessante é que quando agente lê o livro sem se envolver com a história, quando já conhecemos a história. A gente presta mais atenção na poesia existente, na literatura mesmo.
Achei alguns trechos maravilhosos nesse livro.
Um é esse descrito acima. Eu pensei em postar esse por último, já que é o fim do livro. Mas não quis me prender a esse tipo de coisa.

Gostei desse texto porque sutilmente, o autor descreve a esperança, o prazer que se sente com pequenas coisas e as sensações que essas pequenas coisas provocam.

Um pequeno sorriso fez com que um livro com uma história tão pesada e tensa acabasse de uma forma suave e positiva.
Um pequeno sorriso faz com que as pessoas saibam que vale a pena.

Um pequeno sorriso, uma palavra de carinho, um olhar de compreensão, um beijo, um abraço, um gesto, uma rosa{Mesmo que seja de papel}, um cumprimento, uma ligação, um pensamento...
Humanos, seres racionais, tão fortes!
E que no final das contas precisam de tão pouco pra se sentir bem.
Precisamos de atenção e boas companhias tal qual o boi precisa de pasto e àgua. Só!
Saúde e força, o resto a gente corre atrás.

Boa semana!


Ouvindo Melhor lugar_Jorge Vercilo

Um comentário:

  1. adoro esse livro amor...estou lendo ele atualmente...

    disses-te muito bem agente precisa de muio pouco pra viver bem, e vc me da esse pouco mesmo que de longe...

    te amo!!!!!!!

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